consciência para além das cavernas


O Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna foi narrado por Sócrates no livro VII de A República. Sempre me intrigou a clareza e a genialidade dessa Alegoria para traduzir nossa arrogante ilusão de que sabemos tudo sobre a vida e sobre nós e o que acontece quando somos tocados pela luz da consciência.
Esse mito parece completamente atual quando se pensa na vida que vivemos. Encontrei nas minhas pesquisas na internet esse resumo do Mito da Caverna de autor desconhecido e que retrata a essência dessa obra atemporal.
"Existem alguns prisioneiros numa caverna, acorrentados nela desde o seu nascimento. Eles estão presos de tal forma que tudo o que vêem são sombras projetadas na parede diante deles. As sombras são reflexos de uma fogueira que arde atrás deles. Como tudo o que os prisioneiros conhecem são as sombras, eles acham que aquela é toda a realidade que existe.
Mais eis que um belo dia um deles consegue se soltar dos grilhões e galgar os degraus até a fogueira, passando pelo que produzia os projetéis fantasmagóricos e indo ainda além, à entrada da caverna. Lá ele encontra a esplendorosa luz do dia. Mas o brilho é tanto que seus olhos, acostumados à escuridão, custam a poder enxergar. Ele então começa por ver seu próprio reflexo na água, até acostumar a visão para ver as plantas, as pedras, e a partir daí ele pode encarar o próprio céu, com o Sol e outras estrelas.
Tomado de comiseração pelos seus ex-colegas presos no fundo daquela caverna, ele se sente no dever de descer de novo até ela e chamá-los. Mas o que acontece é que os habitantes da caverna não querem sair, e nosso viajante corre mesmo o risco de morrer por querer apontar o caminho da luz."
Vivemos na urgência de nos libertarmos da jaula existencial que nos prendemos. A dicotomia entre o bem e o mal, e a realidade e a ilusão. A escuridão gerada pela ignorância de acharmos que somos o que nos tornamos, fruto das expectativas culturais e familiares, na maioria das vezes, tão distantes de nossa essência, de nossos talentos e nosso propósito.
Parece-me, com cada vez mais clareza, que a consciência é a chave do cadeado. Mas essa chave não está só nos livros, nos retiros de silêncio, nos workshops de autoconhecimento, nas viagens transcendentais, nos cursos... A consciência é a transformação que operamos na vida e para isso é preciso ameaçar a escuridão dos nossos condicionamentos, das nossas crenças limitadoras, dos hábitos, das neuroses herdadas dos pais, tios e avós, das mensagens que engolimos sem digerir da TV e outras mídias.
Enfim, dá trabalho viver com e em consciência. Mas tudo indica que o prazer de desfrutar a luz e a liberdade que há além dessa caverna de Vítimas, Vilões e Salvadores é indescritível, imensurável. Arrisco-me a afirmar que seja a tal felicidade tão procurada e pouco encontrada!
Fala-se tanto em paz, mas me parece que paz não é apenas a ausência de guerras políticas e econômicas e sim viver fora dessa jaula-caverna, dessas pequenas guerras que vivemos todos os dias em nossas relações familiares, amorosas, sociais e profissionais. Talvez a pior de todas as guerras ainda seja a vivida internamente, com nós mesmos. Geralmente inconsciente acaba se manifestando por meio de doenças, depressão, estresse, ansiedade e uma sensação de vazio que Shopping Center nem, cartão de crédito nenhum conseguem aplacar!
Desligar o piloto automático e começar a se indagar, questionar, refletir, meditar buscando acima de tudo o propósito de existir, de trabalhar, de ter filhos e de viver no caos urbano é o caminho para uma vida fora da jaula. Correr o risco de fazer mudanças, de ser vista como uma pessoa diferente e se posicionar na sua singular e original individualidade é o presente de viver na plenitude. Como na Alegoria que traduz em imagens a Teoria da Idéias de Platão, e que foi explicitamente usada pelos roteiristas da trilogia cinematográfica Matrix, muitas vezes é preciso negar, destruir, dar as costas e ser visto como infiel e até louco para se libertar da vida nas sombras, do empobrecimento existencial, do mundinho limitado e angustiante que não precisamos nem merecemos viver!
Nos ensinamentos de Platão e Sócrates a cerca de 2.400 anos o Filósofo era aquele que apoiava a travessia de quem escolhia deixar a ilusão e a escuridão rumo a vida livre da consciência. Nas etnias indígenas são os Pajés e Xamãs responsáveis pela “guiança” na peregrinação de evolução da alma. Na vida urbana contemporânea há alguns Psicólogos, Terapeutas e Coaches que se dedicam à mesma tarefa. À eles não cabe abrir o cadeado da jaula, nem conduzir ninguém para fora da caverna. Aquele que estiver pronto para facilitar essa “libertação” de outros será quem já está do lado de fora com coerência entre seus pensamentos, sentimentos e ações. Mas a busca não acaba nunca, nem há aqueles que podem se considerar prontos nessa matéria, já que essa jornada não é nada fácil.
Mas porque alguns de nós ainda nega a tentativa de libertação oferecida na Alegoria pelo ex-prisioneiro e tão disponível para nós?
Algumas pessoas em processos de Coaching parecem resistentes a questionar suas crenças, muitas vezes gastando o tempo precioso das sessões tentando convencer seu Coach que o chefe dele é o vilão e que ele não tem o que fazer com um chefe daquele! Não temos mais tempo a perder: ou nos conectamos com nosso propósito e talentos e nos responsabilizamos pelas nossas escolhas e relações ou sucumbiremos na depressão endêmica que assola multidões.
Consciência!
Fabi B Maia

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