Des-cobrindo com o câncer



Vários insights chegam como um download acelerado, assim que soube no dia 11 de outubro de 2016, que eu estava com um linfoma na mama direita, associado à prótese de silicone que coloquei em 2005.
Cáraca, mas como assim? Eu? Vegetariana, psicoterapeuta, criadora de um espaço de cura na floresta? Eu que desligo toda a noite o wi-fi de casa pra não estimular câncer? Que tomo suco verde e nunca tomo medicamentos alopáticos? Não estava no script! 

Mês passado eu tive um insight: minha imperfeição me humaniza. Sim, e agora vem essa porrada máster da vida pra humanizar um pouquinho mais.

Me vem Humildade ecoando na mente. Vou pesquisar o significado etmológico da palavra Humilde que é originária do latim, humilis, que significa “aquele que fica no chão”, ou “aquele que não se ergue”. A palavra humilis vem de humus, que tem o significado de terra, ou solo onde vivemos, no latim.
Sim preciso de húmus, de terra para me reerguer. Do ego flutuante, se achando intocável, ainda que emaranhada na teia da vida sem-tempo-urbana-trabalho-sem-parar. Cuidando mais dos outros do que de mim. Quanta máscara tem aqui. Como foi fácil me perder dos valores que eu tanto prezo e rezo por aí. Fui perdendo conexão com minha fonte quando acreditei: Não tenho tempo pra isso (meditar, caminhar no parque, me alimentar melhor, fazer massagem e acupuntura, namorar, contemplar um passarinho na varanda, fazer exames, curtir uma música linda... respirar). Se eu não paro para a vida, certamente a vida vem e me pára! Mas será inteligente isso? Do alto dos 45 anos?? Caí na armadilha que eu mesma alertava os outros: O que preferes: a doce ilusão ou a amarga verdade?? Fiquei durante esse ano todo de 2016 no campo da doce ilusão, sabendo que algo de estranho e incomum estava acontecendo comigo e ignorando todos os sinais que eram vários e fortes. Difícil ter auto-compaixão nesse momento em que deflagro minha ignorância e dormência. O tumor raríssimo está enorme. A nua, crua e amarga verdade veio despedaçando os véus da ilusão. Balanço em tontura com medo do que pode estar por vir. Em seguida, me agarro no fio de confiança, minha medicina predileta e aos poucos me ergo no meu eixo emocional-espiritual, esse que venho investindo minha vida para construir.

A Vaidade...
Na última cena do filme o Advogado do Diabo, Al Pacino vira para a câmera e diz: "Vaidade... meu pecado favorito!” Me marcou tanto essa cena...uau, de tanto pecado sinistro o Diabo prefere a vaidade... aí tem! Foi movida por ela que coloquei implantes de silicone para ficar com peitos lindos, sedutores, que preenchem a blusa, o biquini e meu ego. Me sentia mais bonita com esses seios. Sempre tive seios pequenos e depois de amamentar ficaram menores e caidinhos...como são os peitos das indígenas e que não se incomodam com isso. Hoje vejo que essa necessidade elevada de estética me aprisiona. Onde está minha beleza? Certamente não está nas roupas que uso, nem no meu corpo atendendo a certos padrões estéticos. Constatei isso quando parei de pintar o cabelo em 2010. A beleza está na leveza de quem caminha com firmeza na trilha do propósito, daquilo que tem significado e verdade, inteireza e integridade.

Tem mais... curioso que a vaidade foi incorporada pela sociedade contemporânea-consumista-produtiva como uma virtude! Oh!! Que estranho. Dizemos: Fulana é vaidosa! E o sub-texto parece indicar que a pessoa gosta de se cuidar, especialmente da sua aparência. O que é super valorizado nessa cultura em que vivemos. Deixar de pintar os cabelos, parar de usar maquiagem e tirar os implantes de silicone são atos subversivos, transgressores de uma lógica social normatizante. “Ah! Você está virando Hippie, entendi!”  A mente que procura caixinhas para se sentir minimamente confortável, logo encontra esse rótulo para justificar a escolha. Ó céus!

Tem a vaidade mais sútil que não está na estética mas no incontrolável desejo de ser aceita, valorizada e reconhecida. Vou colocar na mesma miríade de tons da vaidade aqui, mas pode ser outra coisa também. Vejo esse dragãozinho se manifestar, por exemplo quando posto algo no Face e cinco minutos depois me flagro dando uma checadinha pra ver quantos likes ou comentários dizendo como sou maravilhosa e inspiradora tem lá! Que M... Migalhas das quais meu eguinho vive se alimentando. Porque dá uma sensação corporal super boa quando tem muitos likes e comentários bacanas, tipo uma cocaína ou um chocolate. Então isso vicia mesmo. A ilusão vicia mesmo. Preciso de algo que vem de fora e é efêmero me dizendo que sou bacana para me sentir valorizada?? Quem dentro de mim se alimenta desse jogo? Estou nessa caça já faz um tempinho. Tem uma tal de criança ferida-carente que habita em alguma caverna nas entranhas internas e desconfio que seja ela que sai procurando em likes de posts alimento para seu alento, remédio para sua dor.

...em breve mais reflexões que estão vindo como trovões durante meus dias de cura!


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