Dia 22/03/2016 estarei na mesa de debate do TRANSITIONS - Conversas sobre o Novo Mundo no HIPERESPAÇO (Vila Madalena)


Semana intensa e tensa com mais um dia 08/março (o tal dia internacional da mulher)!


Fico aqui com incômodos, alívios e reflexões. Existe uma essência do feminino e do masculino? Há algo que determina essas duas experiências e que são essencialmente distintas? O que será a igualdade tão sonhada por alguns (ou muitos)? 


Vejo nossa mente (a do ser-humano "civilizado", urbano, rural...) ainda condicionada a imaginar um conjunto de atributos, atitudes e características que são diretamente associadas e então, acabam por definir, o que é o tal feminino e também o tal masculino.
Sim, e assim foi durante alguns milhares de anos. Não quer dizer que será da mesma forma daqui pra frente!!

Estou interessada na desconstrução do modelo mental que encaixota o que é do feminino e o que é do masculino e assim, quem sabe embaralhamos conceitos num modelo mental sem polaridades e binarismos.
Mais do que reforçar as diferenças entre gêneros, identidades e etc., me parece que ganhamos mais tecido evolutivo, ao navegarmos naquilo que nos une, nas necessidades humanas e compartilhadas.

Parto de um olhar socio-histórico entendendo o que era aquilo que representava o feminino na época das cavernas, na era pre-homo-sapiens e naquele momento em que éramos coletores-caçadores. O que estava em jogo naquele momento decisivo da humanidade? A sobrevivência e assim com bebês que nasciam prematuros (com 9  meses de gestação) e dependentes de cuidados básicos, uma configuração social naturalmente se formou. De repente, a população foi aumentando, viramos sedentários e agricultores (com animais domesticados), uma consciência sobre a vida e morte crescia e as cidades nasceram. Novos papeis sociais vão surgindo ao longo dos milênios que seguem.  É desse ponto que tribos e civilizações se desenvolvem nos últimos milhares de anos.

O que tinha valor durante esse tempo todo? A força física, a capacidade de guerrear, de proteger seu clã, de buscar alimento, de preparar o solo para o plantio... e isso cabia ao masculino. Esses lideravam o clã, ainda que liderança na era pré-histórica (antes da escrita entre 10.000 e 6.000 anos atrás) possivelmente pressupunha inclusão das muitas vozes: dos anciões e das mulheres, especialmente. Enquanto estávamos profundamente ligados e em relação com a natureza, imagino que a experiência da dominação (do masculino sobre o feminino ou vice-versa) era inexistente. Tem algo que se deturpa quando passamos a dominar a natureza, a matar os lobos para que o rebanho de ovelhas não sofresse abates. Rompemos com o ciclo de vida-morte-vida em função do acúmulo de capital e o medo da escassez, e assim aquele que tinha o poder de matar os lobos, podia dominar a todos também. A experiência de dominação masculina, e aqui estou associando o masculino com o gênero e o hardware de um homem, sobre as mulheres foi real durante os últimos milhares de anos, nas civilizações que despontaram por todo o planeta. E dominação significa que quem tinham escolhas eram uns, e quem nascia com um hardware de mulher cabia receber ordens e seguí-las, ou a punição era certa.

Então, tem algo forte da experiência de opressão nesse inconsciente coletivo que encontra um espaço de transformação e libertação no início do século XX, e que se intensifica no pós-guerra. Surge uma onda, reforçada pelas artes, pela psicologia moderna e pela tecnologia, de desejo de escolha, de voz, de satisfação que eclode no movimento feminista e se expande por todo o planeta como um tsunami. Ainda estamos polarizados vendo o feminino e o masculino, vendo mulheres e homens.  Algo emerge nesse início de milênio, na ascensão da era de aquário que anuncia uma transcendência da perspectiva binária, que confunde, mistura, embaralha tudo o que achávamos que conhecíamos sobre o masculino e o feminino, sobre homens e mulheres.

As muitas comunidades intencionais baseadas nos pilares da não-violência e interrelação com a natureza, que pipocam mundo a fora, desafiam as hierarquias, o conceito de família, instauram o amor-livre sem julgamentos, quebram tabús e expectativas de papeis sociais e assim, anunciam a nova espécie: homo-luminous ou homo-empathicus numa era de inclusão, inteligência coletiva e abundância. A divisão entre o feminino e o masculino fará parte dos sites e livros de história que contam como eram os homo-sapiens!

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